terça-feira, 19 de julho de 2011

TRISTEZA


Desde sempre fui atraída por um olhar triste. Nunca percebi porquê dado que não sou uma pessoa com essa característica, mas assim acontece talvez porque sinto que devo apoiar e ajudar essas pessoas.

No meu tempo de estudante e numa turma de aproximadamente 20 meninas (à época as turmas eram separadas por sexo, assim como os colégios) fui atraída por uma ruiva com sardas e óculos e com um sorriso lindo..mas triste. Ela tambem simpatizou comigo. 

Tornámo-nos muito amigas, saíamos juntas, passeávamos e sobretudo conversavamos muito.

Era uma jovem que, como eu, se interessava por vários assuntos assim nunca esgotávamos os temas. Uma amizade muito saudavel e construtiva.

Um dia, ela muito timidamente e mantendo o seu ar triste e amedrontado deriva a conversa para religião. 

Percebi nitidamente que queria dizer-me algo. Respondi pormenorizadamente que tinha sido educada na religião católica porque era a religião oficial em Portugal, tinha feito as várias comunhões, crisma, ia à missa ao domingo, etc. No entanto continuava insatisfeita à procura de um Deus que não era o que me impingiam. 


Já tinha sido budista, anglicana, adventista do 7º dia, mas nada, ainda não tinha encontrado a espiritualidade que tinha idealizado e que a minha alma pedia.

E assim fomos conversando...Ela nunca interrompeu. Quando fiz uma paragem e mantive-me em silêncio por uns minutos, a minha amiga disse-me a sussurrar:

- Eu sou judia.

Respondi:

- Qual é o problema? porque dizes isso em sussuro? É uma religião como qualquer outra..

Aí ela suspirou profundamente, emocionou-se, olhou para mim com um olhar feliz e sorriu...

Já se passaram muitos anos, não voltei à África do Sul e perdi-lhe o contacto, mas nunca mais me esqueci daquela menina judia que tinha um sorriso triste e lindo que por algum tempo foi só lindo!.

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A MARTA

Numas férias em S. Tomé, conheci a Marta.

A Marta, uma menina de uns 6 anos, franzina, esfarrapada, com um aspecto sujo e mal tratado com o olhar mais triste que jamais vira na minha vida, que voluntáriamente se pôs ao meu lado quando subi até ao marco do Equador.

Como a subida é muito ingreme, íamos parando aqui e ali para apreciar a maravilha da flora e da paisagem. Nessas alturas bebia água de côco (arranjada pelo primo da Marta que nos acompanhava) para matar a sede e comía "maltesers", que levo sempre comigo para tirar a fome e dar energia, e que partilhava com a menina. 

Não tive oportunidade de falar com ela porque o primo estava sempre perto, como que a vigiá-la, mas tive muita pena. Gostava de saber o porquê de tanta tristeza numa pequenina de apenas 6 anos.


Quando voltámos abracei-a e dei-lhe uns trocados para comprar mais chocolates.

Aqui está a Marta a menina que não pude ajudar. Que triste fiquei!.


2 comentários:

  1. Graça
    Quem sabe a Marta ainda hoje se lembre dessa subida ao Equador, do sabor dos "maltesers" e sobretudo do calor e ternura do teu abraço... e o seu rosto se abra num sorriso feliz.
    Escreves muito bem, parecia-me estar a teu lado enquanto lia
    Bj

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  2. Mais uma vez obrigada Landa, as tuas palavras são dum enorme incentivo para mim.
    Pode ser que a Marta se lembre de mim, mas ela ficou-me no coração. Um dia que volte a S. Tomé irei procurá-la.
    Um abraço para ti.

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