Desde sempre fui atraída por um olhar triste. Nunca percebi porquê dado que não sou uma pessoa com essa característica, mas assim acontece talvez porque sinto que devo apoiar e ajudar essas pessoas.
No meu tempo de estudante e numa turma de aproximadamente 20 meninas (à época as turmas eram separadas por sexo, assim como os colégios) fui atraída por uma ruiva com sardas e óculos e com um sorriso lindo..mas triste. Ela tambem simpatizou comigo.
Tornámo-nos muito amigas, saíamos juntas, passeávamos e sobretudo conversavamos muito.
Era uma jovem que, como eu, se interessava por vários assuntos assim nunca esgotávamos os temas. Uma amizade muito saudavel e construtiva.
Um dia, ela muito timidamente e mantendo o seu ar triste e amedrontado deriva a conversa para religião.
Percebi nitidamente que queria dizer-me algo. Respondi pormenorizadamente que tinha sido educada na religião católica porque era a religião oficial em Portugal, tinha feito as várias comunhões, crisma, ia à missa ao domingo, etc. No entanto continuava insatisfeita à procura de um Deus que não era o que me impingiam.
Já tinha sido budista, anglicana, adventista do 7º dia, mas nada, ainda não tinha encontrado a espiritualidade que tinha idealizado e que a minha alma pedia.
E assim fomos conversando...Ela nunca interrompeu. Quando fiz uma paragem e mantive-me em silêncio por uns minutos, a minha amiga disse-me a sussurrar:
- Eu sou judia.
Respondi:
- Qual é o problema? porque dizes isso em sussuro? É uma religião como qualquer outra..
Aí ela suspirou profundamente, emocionou-se, olhou para mim com um olhar feliz e sorriu...
Já se passaram muitos anos, não voltei à África do Sul e perdi-lhe o contacto, mas nunca mais me esqueci daquela menina judia que tinha um sorriso triste e lindo que por algum tempo foi só lindo!.
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A MARTA
Numas férias em S. Tomé, conheci a Marta.
A Marta, uma menina de uns 6 anos, franzina, esfarrapada, com um aspecto sujo e mal tratado com o olhar mais triste que jamais vira na minha vida, que voluntáriamente se pôs ao meu lado quando subi até ao marco do Equador.
Como a subida é muito ingreme, íamos parando aqui e ali para apreciar a maravilha da flora e da paisagem. Nessas alturas bebia água de côco (arranjada pelo primo da Marta que nos acompanhava) para matar a sede e comía "maltesers", que levo sempre comigo para tirar a fome e dar energia, e que partilhava com a menina.
Não tive oportunidade de falar com ela porque o primo estava sempre perto, como que a vigiá-la, mas tive muita pena. Gostava de saber o porquê de tanta tristeza numa pequenina de apenas 6 anos.
Quando voltámos abracei-a e dei-lhe uns trocados para comprar mais chocolates.
Aqui está a Marta a menina que não pude ajudar. Que triste fiquei!.
